sábado, 14 de junho de 2014

foco narrativo

duas demonstrações recentes da ideia de que o foco narrativo significa a distância maior ou menor que o narrador assume diante do personagem e que, em função disso, todo personagem é complexo, quando visto de perto: um) uma manicure, com quem conversei, é jogadora de futebol. jogava em goiás, mas precisou vir a são paulo para trabalhar. velha demais para ser aceita em algum clube, joga no time masculino do marido. não é que eu goste de futebol, eu amo. é uma paixão, uma fascinação. enquanto assistíamos ao jogo camarões e méxico, ela me ensinou todos os impedimentos. dois) o vendedor de queijos do sacolão é croata, casado com uma japonesa, que conheceu num navio de cruzeiro. ela trabalhava na cozinha e ele na área de cargas. se apaixonaram e, como ela é filha de brasileiros, vieram para cá e trabalham com laticínios. ele tem, na parede da banca do sacolão, um prato de cerâmica com o mapa da croácia e sua cidadezinha em relevo. a bandeira croata escondida no balcão está dobrada ao lado da brasileira, propriedade de sua mulher japonesa.

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