sábado, 31 de maio de 2014
amor
"eu sou o historiador dos nomes das ruas de diadema", o homem que interrompeu minha aula disse. "se a senhora for noemi jaffe, eu vou ficar muito feliz". "sou". mostrou uma lista de ruas de diadema, de mil novecentos e sessenta e um. os alunos olhando. esse nome, "aron jaffe", "a senhora conhece?'. "é meu pai". "pois ele comprou vários terrenos na rua gama, em diadema". "lá em diadema nóis não fala jáffe, não. nóis fala jafé". "meu pai tinha vários terrenos em diadema?". "tinha sim, minha senhora. eu vi que a senhora escreve uns negócio na folha de s.paulo e como eu não sei mexer em computador, pedi pra uma pessoa pesquisar, vi que a senhora tava dando aula aqui em santo andré e vim aqui mostrar pra senhora".
terça-feira, 27 de maio de 2014
pregão
outro tempo me visita às terças de manhã, com o pregão: "olha a mandioca, mandioca, mandioca, mandioca, mandioca, banana". a disjunção entre a mandioca e a banana; a quantidade de repetições da palavra "mandioca"; a "banana"sozinha no final; o acento que o pregoeiro coloca na última sílaba de "banana"e não na segunda, tornando-a oxítona; o tom inacabado com que ele soa o chamado, terminando a nota no alto e não em baixo, como seria de se esperar; tudo isso enxerta outro tempo, espaço e possibilidades na vida desta rua da previdência, às terças de manhã, que reclina, agradecida, à presença desse real irreal.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
umbigo
deus, que é aquilo que se invoca, que é a voz que fala apesar de mim, fora e dentro do que sou eu, que obedece ao sopro emitido pelos sons que formam algum sentido, faça com que o tempo abrande o medo e que o possa transformar em onda, giro, círculo, cor e tônus. faça com que as faces - você que mora nos umbigos - ganhem agudeza e gravidade, mas também ar. sopre, de dentro para fora, de baixo para cima, um vento mínimo, que areje os olhos, as bocas, os orifícios e que esse gás se espalhe. sem poder, sem corrosão, mas com elasticidade, expansão e leveza.
sexta-feira, 16 de maio de 2014
ou
acertar no alvo; atingir a meta; ajustar o foco; otimizar a estratégia; agilizar os trabalhos; sinergia adequada; empreendimento agressivo; ação ofensiva. é vida ou é guerra?
terça-feira, 13 de maio de 2014
verdade
todo mundo se queixa de não poder mentir sem culpa. afinal, ser verdadeiro, honesto, fiel, etc. é, muitas vezes, uma construção difícil. mas no momento em que é possível mentir livremente - ou seja, na literatura - todos querem falar a verdade. verdade é para analistas, padres, amigos. na literatura, a verdade pouco funciona.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
árvore
dizem que quando alguém "se arvora"um direito, é porque, na verdade, não o tem mas quer ostentá-lo. desperdício da língua. todos deveriam arvorar-se, não necessariamente direitos, mas intransitivamente. daí as pessoas distribuiriam galhos, gastariam frutos, amadureceriam e murchariam conforme as estações e ciclicamente; olhariam as coisas lá de cima, mas também de baixo, com descaso e experiência. logo tudo começaria de novo e cada novo tempo criaria aneis, que só muito mais tarde alguém determinaria como nossa velha idade.
sábado, 3 de maio de 2014
pepino
resumo da filosofia em no máximo quinze palavras:
freud: quem desdenha quer comprar
schopenhauer: não ria do mal do vizinho, que o seu está a caminho
descartes: barata sabida não atravessa galinheiro
nietzsche: o sol nasce para todos; a lua, para quem merece
platão: as aparências enganam
leibniz: para muito sono, toda cama é boa
heráclito: os opostos se unem
marx: uma andorinha só não faz verão
skinner: é de pequeno que se torce o pepino
aristóteles: muito riso, pouco siso
comte: ninguém nasce sabendo
freud: quem desdenha quer comprar
schopenhauer: não ria do mal do vizinho, que o seu está a caminho
descartes: barata sabida não atravessa galinheiro
nietzsche: o sol nasce para todos; a lua, para quem merece
platão: as aparências enganam
leibniz: para muito sono, toda cama é boa
heráclito: os opostos se unem
marx: uma andorinha só não faz verão
skinner: é de pequeno que se torce o pepino
aristóteles: muito riso, pouco siso
comte: ninguém nasce sabendo
quinta-feira, 1 de maio de 2014
acaso
uma girafa viu um homem cínico rindo do sofrimento humano. ele ria, dizia, porque tudo é dor e o sofrimento é, portanto um desperdício. como você é bobo, disse a girafa, espantada. acaso a economia é menos dolorida que o desperdício?
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