sexta-feira, 30 de agosto de 2013

breve resumo onomatopaico do tempo

um: shhhhh, trrrrr, fffffff, tuc, babum, uuuu, zzzzzz, grrrrr, crac
dois: blen, toc, telec, piiii, tlic, vrom, bibi, dlin, bang, clic, trim
três: rsrsrs, uahuahuahua, kkkkkkk

legenda

um: pré-história
dois: história
três: pós-história

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

xícara

no leito de morte, o rabino, questionado sobre o sentido da vida, respondeu: a vida é uma xícara de chá. um discípulo sussurrou para o outro e para o outro, até que toda a cidade repetia, assentindo: a vida é uma xícara de chá; o rebe disse que a vida é uma xícara de chá. até que um cidadão, mais corajoso, perguntou: mas por que a vida é uma xícara de chá? devagar, todos passaram a se perguntar: por que a vida é uma xícara de chá? até que a pergunta finalmente chegou ao discípulo mais próximo do rabino que, temeroso, perguntou a ele, já em seus estertores: mas rebe, por que a vida é uma xícara de chá? o rabino, nas últimas forças, fechou os olhos, lentamente deu uma sacudida de ombros e respondeu: então a vida não é uma xícara de chá.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

lado

chutei um cachorro morto
foi fácil.
ele tombou mais para o lado
e permaneceu imóvel,
como fica um morto
quando o chutam.

assim que o joguei
- o coveiro às pressas -
na cova que criei
- o vigia da rua acima -
ele despencou,
não reagiu,
foi fácil.

agora ossos
a grama cobriu
- o moço tinha dito mesmo -

terça-feira, 20 de agosto de 2013

relação

qual é o custo benefício? o custo é quarenta, o benefício é qualidade razoável, entendeu? portanto, a relação é vantajosa, já que qualidade razoável por quarenta é um bom negócio. em outros lugares, a qualidade razoável custa no mínimo cinquenta, cinquenta e cinco, por aí. sei que tem lugares onde você encontra qualidade razoável até por trinta e cinco, mas daí já são exceções e sempre é preciso desconfiar quando o custo da qualidade razoável é menos de quarenta, compreende? eu, por exemplo, ontem, comprei uma qualidade razoável por quarenta e dois, então o custo que estou lhe passando é realmente benéfico. a relação então, nem se fala. porque o que me preocupa é a relação.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

húngaro

 o que eu mais queria mesmo era saber húngaro. húngaro, húngaro, minha língua ainda mais minha porque não a domino. mas ninguém domina uma língua. são como montanhas, cachoeiras, vulcões: indomáveis. gostaria de chegar próxima do húngaro como um domador de leão. olhá-la no fundo da bocarra e quase me deixar devorar, para então retirar minha cabeça e olhá-la de frente com reverência. húngaro, me ensine a dizer bom dia e a ler branca de neve em você?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

espera

waiter é garçom em inglês. se traduzirmos literalmente, waiter seria um esperador. por que esperador? porque o garçom "waits on" people, cuja tradução é atender. atender é falso cognato de "attendre" que, em francês, é esperar, como a tradução de wait para o português. ou seja, esperar e atender são a mesma coisa. acabo de entender um pouco sobre mim mesma.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

lâmina

você disse que eu ando triste e é verdade. fiquei pensando por que e não sei. mas acho que são os trens nas plataformas, as pessoas que entram neles, vão para outros lugares e as outras que ficam; é uma louca que vi em varsóvia, há cinco anos; um pedaço de lâmina quebrada que achei na rua e uma fila longa. é também um sonho interrompido pelo barulho de uma sirene e uma casa em salvador, quase desbarrancando. e, por fim, a alegria. ela carrega uma bolha na beirada. você entende, não é?

domingo, 11 de agosto de 2013

terça-feira, 6 de agosto de 2013

frio

todo dia ele tinha que me contar a mesma piada: o isaac disse pro jacó: vou fechar a janela, faz muito frio lá fora. e o jacó: e se eu fechar a janela, vai ficar mais quente lá fora? e toda noite nós ríamos, ele mais ainda de ver como eu sempre achava aquilo engraçado. ainda acho e, se você pudesse me contar tudo de novo todas as noites, eu riria do mesmo jeito. é que está muito frio lá fora.

sábado, 3 de agosto de 2013

alienação

alergia, aliás, halopatia, álibi, alegoria, paralelo e alienação todos têm a mesma origem: alos, do grego "outro". alienar-se é, como no jargão dos compradores de carros, estar numa situação de insolvência de si, dependente do outro para que se complete a posse. as metáforas de propriedade aqui são meio ruins, já que a ideia de ser proprietário de si é horrível, mas serve para entender. o alienado vive em estado de álibi, de aliás, de alegoria: ah, mas todos fazem; ah, mas a culpa não é minha; ah, não sei de onde veio isso; ah, sei lá o que isso quer dizer; ah, por outro lado, veja bem.