quinta-feira, 28 de novembro de 2013

mal

você, que identifica o mal no outro e, de alguma forma, se consola com isso, pensando que não é você. agora coloque-se, imaginariamente, em situação de risco. pior. alguma situação de risco para sua família. você ainda protegeria aquilo que chamamos de bem? poria em risco alguém que ama pelo bem? pois bem. essa é a origem, racionalizada, daquilo que hannah arendt chama de banalização do mal, inclusive a pergunta que fiz. e sua óbvia ( quase) resposta.

sábado, 23 de novembro de 2013

transcendência

ouvi falar de um estilo, no cinema, chamado de transcendente. o conferencista falou em dreyer, ozu e bresson. mas, na sua opinião, esses cineastas praticariam o chamado estilo transcendente porque, por trás da prioridade que eles dão às sutilezas, ao silêncio e às tomadas longas, o espectador percebe, inevitavelmente, que há algo maior, transcendente. desculpe, mas não concordo. se há mesmo transcendência nesses filmes, ela está justamente na gota de chá que escorre do saquinho, no vidro quebrado da janela, na demora para pegar os talheres. e o mesmo no filme inesquecível sobre o qual se falava: my father, my lord. o menino, protagonista, está sim no domínio do transcendente, mas que não é o do pai, rabino devoto. está no seu relacionamento empático com as coisas, os animais e as pessoas. na imanência, onde, se há algum deus, ele estará.

domingo, 17 de novembro de 2013

pio

tem o que parece vindo da água. o outro é rápido. um é longo e imprevisível. tem um que muda a cada vez. outros aparecem só uma vez por ano. com esse um, agora, a gata se assustou. ouvi-los me acalma sem que eu saiba. se eles param, é como se algo, que não sei o que é, mudasse. eles existirem, estarem aqui, sem saberem de mim e eu pouco deles, não dá sentido, mas é como um sopro na vida.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ah

eu perdi o dó do meu clarinete. do meu clarinete eu perdi o dó. ah, se papai souber disso. ah, se mamãe souber disso.

sábado, 9 de novembro de 2013

refugo

todo livro de ficção é uma biografia e uma autobiografia. todo livro de não-ficção também. refugo aproveitado dos sorvetes de uva da kibon, o chocolate lingote, o suicídio de getúlio, o sonho da casa própria, o liquidificador walita, a escola do pedrinho, o brasil justo e igualitário. a verdade, a intimidade e outras quimeras moram contíguas às versões, os acasos e as fofocas. um elefante verde é igualzinho àquele vestido usado no batizado da prima, lembra? não lembra?

terça-feira, 5 de novembro de 2013

tempo

o tempo pode ser nada mais do que uma dimensão do espaço: deslocamento de energia ou corpos em movimento cuja energia vai diminuindo até se transformar. mas outro dia pensei o contrário: o espaço como dimensão do tempo: só sabemos que uma coisa é uma coisa e que pode, por exemplo, nos machucar, porque ele está aqui, agora, no mesmo tempo que nós. sua presença no espaço seria somente uma percepção da simultaneidade e não de sua realidade fisica. a ideia do tempo como dimensão do espaço leva a um pensamento mais centrado no eu, enquanto a do espaço como dimensão do tempo é mais centrada no cosmo e, aqui, o eu se torna um evento tão insignificante como uma cadeira num cinema.

sábado, 2 de novembro de 2013

sexta

a teresa me disse que faz quatro anos na sexta agora, mas o moacyr disse que sexta, para ela, quer dizer tudo o que é futuro. gostei. na sexta agora releio o ulisses, anotando os comentarios, compro uma daquelas geladeiras que têm água na porta, visito a veronika duas vezes por semana, proponho um plano infalível de desmilitarização de são paulo, como gnocchi de ossobuco e brinco de stop com a leda e o david.