domingo, 27 de julho de 2014

dose

se pharmakon é veneno e é remédio, o que determina sua eficácia é a dose, que, por sua vez, significa dom, doação e dádiva. saber dosar é saber doar.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

tempo

time é tempo e weather é tempo também. por um lado, como é bonito perguntarmos "como está o tempo?"e, com isso, qualificarmos a passagem dos dias. "o tempo está bonito", "o tempo está feio", "o tempo está chuvoso", como se o próprio tempo se vestisse para passar por nós e em nós. mas, por outro, que falta de poder reconhecer a chuva, o vento e o sol como coisas independentes e, com isso, acreditar, por alguns minutos, que somos marinheiros ou desbravadores guiados pelos fenômenos naturais.





domingo, 20 de julho de 2014

paz

como suportar ser e não ser? é isso o real. e não alternadamente, mas simultaneamente. o mesmo pode ser o outro e o outro pode ser o mesmo ao mesmo tempo. enquanto não nos preparamos para contermos e sermos contidos por isso, não haverá paz. nem em nós nem para nós.

domingo, 13 de julho de 2014

piedade

nossa senhora das gentes ordinárias, tende piedade dos que duvidam, se contradizem, não conseguem se decidir e gaguejam. mas mais piedade ainda, senhora, daqueles que têm certezas, porque sua solidão é tão terrivelmente maior.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

vida

a poesia fica adiante ou antes da vida, mas não coincide com ela. e é nessas horas - quando eu penso que elas são a mesma - que a vida vem e te pega e te lança seguidamente morro abaixo e acima, te torce que nem laranja madura e te explica, às vezes alto e outras baixinho: eu sou só isso. ou tudo isso. eu sou sete a um.

domingo, 6 de julho de 2014

preconceito

o ímpeto preconceituoso contra os carrões bmw falou alto ontem, quando fui fechada por um deles, que continuou patinando pela rua estreita, sem definir a pista, como se fosse dono do lugar. passei do lado, doida para ver a cara do motorista e, justificada em meu preconceito pela sua cara já intuída de coxinha cem por cento, xingá-lo. mas era a gal costa. era a gal costa. era a gal costa.

terça-feira, 1 de julho de 2014

inferno

não é que o inferno sejam exatamente os outros. pior do que isso é saber, implicitamente, que eu é que sou o outro do inferno deles. o inferno são os outros é quase como dizer: o inferno sou eu.