sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

aborto

aborto não é morte. aborto é a vida da mulher. o aborto aborta células. se um conjunto de células é vida, imagine matar um inseto. seria punível por assassinato. ah, mas insetos não têm alma. ah, mas nós vivemos em um estado laico, que não determina mais quem tem alma ou não. se a mulher acha que um punhado de células tem alma, que não aborte. não abortar não é proibido. mas deixe que a mulher que não pensa assim, porque vivemos num estado laico, aborte. essa mulher, e ponho minha mão no fogo em noventa e nove vírgula noventa e nove por cento dos casos, não gostaria de abortar, se está abortando, é porque precisa, não importa o motivo. e se ela determinou que precisa, é porque a vida que este embrião teria, porque ainda não tem, seria infeliz. o aborto é impedir uma vida infeliz e não a retirada de uma vida. ou melhor, duas vidas infelizes. ou melhor, muitas. proibir o aborto é que é condenar mulheres ao assassinato. de si mesmas.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

cautela

para que "o qual"? trata-se do pronome relativo mais metido e inútil da língua. "gosto de sorvete, o qual posso comprar no supermercado". "vi a moça a qual não gosta de cinema". tudo facilmente substituível pelo simples, funcional, humilde e bonito "que". por favor, parem de usar "o qual", "a qual", e, ainda pior, "os quais" e "as quais". "do qual" ainda vai lá, mas com cautela.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

estacionamento

sou um santinho dentro de um altar e olho para as pessoas que rezam para mim. pedem milagres, curas, bênçãos, casamentos, a pessoa amada, chuva e vitória. prosperidade também. mas queria dizer a todos vocês, se possível, que, para essas causas, procurassem os santos aí do lado, porque eu acabei me especializando em vagas de estacionamento. se vocês quiserem lugar para estacionar, podem contar comigo, eu ajudo e garanto, no mínimo, duas vagas por semana, em lugares difíceis como vila madalena ou higienópolis. garanto ausência de guardadores ou, no pior dos casos, bastante trocado na carteira. mas cura, não. cura é com o aquele santo maior, o de madeira. eu sou só de plástico, vagabundo, e, depois desses anos todos, acabei me profissionalizando. inclusive, aceito gorjetas.