quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

instalação

deus queria entender o que era uma instalação. os anjos balthioul, que é um anjo com poder de impedir a angústia e barratiel, que é um anjo de apoio, o levaram para conhecer obras de barnett newman,  marina abramovic, christo e de anish kapoor. deus, por exemplo, quis saber por que christo tinha encapado uma ilha com plástico cor de rosa e não amarelo ou outra cor e disse também que tinha entendido que instalação era um tipo de manifestação artística onde a obra interage com o espaço e o meio ambiente. deus tinha gostado muito. o anjo balthioul, com medo da angústia de deus, que nessa horas podia até machucar alguém, disse que o cor de rosa era para contrastar com a natureza, que quase não produz essa cor. já barratiel disse que muito bem!, que deus tinha entendido perfeitamente e que poucos compreendem tão rápido esse tipo de coisa. deus ficou muito satisfeito e disse que, também, não era pra menos, ele já tinha muita experiência.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

limão

tudo bem. é legal fazer dos limões uma limonada e toda essa história. mas tem hora que aproveitar tudo como uma oportunidade cansa. tem hora que, olha, deixa só o limão mesmo.

sábado, 26 de janeiro de 2013

peixe

embaixo da água tem peixes pretos, azuis, compridos, pequenos, listados, grudados nos corais, lagostas, formações rochosas, areia, conchas, ouriços, grutas e um peixe que fica mais parado do que os outros, te olhando assim,  bem dentro dos olhos. ele diz, diretamente: nada, palavra nenhuma.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

praia

acabo de ler um extenso ensaio da alan pauls sobre a praia. o ensaio é excelente, muito mais do que eu esperava, com a vantagem de que eu, neste momento, estou na praia e reconheço sensorialmente o que o texto comenta. coisas como o espírito gregário praiano, a igualdade de classes e a sensação esquisita da areia no corpo. alan pauls é um frasista barroco, obcecado por digressões num nível quase fetichista e o que seu ensaio quer, claramente, é recuperar algo de uma praia perdida na infància, que ele sempre freqüentava com o pai. e ele fica por um triz de chegar lá. mas na praia onde estou tem muitos coqueiros, muito vento e extensões vaziamente infinitas. então lembro de "coqueiro de itapuã: coqueiro; areia de itapuã: areia; morena de itapuã: morena" e sei que caymmi atravessou a angústia de atingir a coisa em si - que aliás nem devia sentir - e, sem mistério nenhum, disse e nos trouxe a coisa-praia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

kindle

eu não sabia que, uma vez cadastrada no kindle, não é preciso mais, das vezes seguintes em que se clica o botão "compre num clique", preencher os dados do cartão de crédito. o resultado disso é que eu, após um lance inocente de curiosidade, tentando averiguar o índice de um livro atrás dos textos de um autor desconhecido, mas que eu queria conhecer, devo ter sio a única pessoa no mundo a comprar, via kindle, o livro "memorable  quotations. polish writers of the past". para que ele não se perca no limbo escorpiônico da internet, cito aqui uma passagem, de jérsy kozinski: "i am going to put myself to sleep now for a bit longer than usual. call the time eternity", que foi sua nota de suicídio. acho que foi uma boa compra. ótima.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

liberdade

lendo "to the lighthouse", de virginia woolf, sem exagero um dos melhores livros que já li na vida, pensei que talvez o discurso indireto livre, que a autora praticamente inventou, pelo seu uso tão renovado, intenso e único desse recurso, seja uma manifestação de sua tão conhecida loucura. o discurso indireto livre, de alguma forma, também é, como o eram as vozes que virginia ouvia, um delírio do narrador, que faz com que a narrativa se divida e se multiplique ao mesmo tempo. ele,  como um dos recursos essenciais para a formação da literatura moderna, enlouquece o discurso, desvia a onisciência do narrador realista e o joga no mundo ínfimo do personagem. nem os narradores mais astutos conseguem escapar dos caminhos inadvertidos e inesperados da liberdade desse discurso.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

melhor

esse é o melhor post do mundo. é denso, sem ser pesado. revela verdades antes impensadas, mas sem nunca perder o estilo poético. é metalinguístico sem ser hermético nem narcísico. visa ao público, mas não faz concessões ao mercado. é difícil, mas não inacessível, somente desafiador. é fácil, mas não medíocre. é circular e cíclico, embora mantenha a linearidade. experimental, sem desfazer-se da narrativa clássica. arrisca-se, pois coloca-se de saída num patamar inatingível. contém referências infra e extratextuais: ( flaubert, murakami, onde está a experimentação?). anuncia o futuro e remete ao passado: amanhã e ontem. é autocrítico e contém, na mesma dose, laivos de tristeza e alegria: ah e oh.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

não

a moça do caixa do sacolão estava triste. eu queria perguntar por que, queria dizer a ela que vai passar, independente do que seja. também quis contar toda a minha vida para uma mulher que vi no metrô e que sabia que, caso a conhecesse, seríamos grandes amigas. as melhores. do mundo. quis convidar um casal para jantar na minha casa, quem sabe toda semana. eu faria ossobuco. muito ossobuco. não fiz nada disso. toda hora estou não fazendo muitas coisas.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

gal

a melhor palavra em que consigo pensar para descrever o show recanto, com gal costa, é trágico, no sentido de uma coisa que concilia exaltação e destruição; vida, morte e ressureição; desafio aos deuses e submissão; criação pagã e religiosa; queda e superação; gênio e barbárie; cosmopolitismo e nacionalidade;velhice e juventude; união e separação. saio do show orgulhosa de ser brasileira, de ter pertencido e ainda pertencer a essa história e a esse momento da música popular brasileira e, mais uma vez, como tantas na minha vida, confiante de que o mundo tem saída. não importa que não tenha. agora tem e isso basta.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

amor

o amor não está aqui nem está alhures. o amor não tem algo a dizer. não pergunte nada ao amor. não o procure no fundo de nada; ele sempre está na superfície. principalmente não o procure. mas também não espere que se você não o procurar, vai encontrá-lo. não morra de amor. o amor não é uma entidade: não exige respeito nem homenagens. ele não tem autonomia para abater-se sobre quem ele bem quiser, porque ele não é uma coisa em si. ouça. agora mesmo. ele está falando.você escutou? não?