quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

hospital

uma vez num hospital de grande porte, um dos melhores do país, é fundamental que o paciente e seu acompanhante tomem conta: do laboratorista, dos técnicos, dos auxiliares de enfermagem, dos enfermeiros e sobretudo, com o máximo de cautela, dos médicos. o doente precisa ficar muito atento para não atrapalhar o trabalho deles que é, basicamente, atender a protocolos. todos estão muito vulneráveis e são frágeis. o doente não pode descuidar de nada.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

lote

à celulite que me coube, à hipermetropia que de qualquer forma viria, à hérnia de disco lombar com a  qual eu nasci ou que talvez tenha adquirido numa queda na infância, às cicatrizes no joelho e no ventre, ao joanete que herdei de minha avó, ao tornozelo grosso e ao pé chato, à saliência estomacal mais popularmente conhecida como barriga - e por mais demagógico e retórico que isso possa soar, embora não seja - deixo aqui meu agradecimento. meu lote é meu dote.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

alhures

paulo, você disse que às vezes o blog fica chato porque eu viro uma etimologista, mas é que eu descobri que alhures, essa palavra adorável, é o mesmo que ailleurs, em francês e assim, pensando, lembrei que existe também nenhures, que é lugar nenhum. como será nenhures em francês, paulo? nailleurs? e ainda tem algures, para a nossa suma alegria. alhures, nenhures e algures. que língua linda.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

bis

tarefa de hoje para quem está interessado em escrever: pense em um assunto sobre o qual você não sabe nada. que seja muito distante de sua área de interesse ou de profissão. para mim, por exemplo, seria o ciclo reprodutivo do salmão, sobre o qual já ouvi falar coisas interessantes. em seguida, comece a pesquisar sobre o assunto. busque no google, navegue por sites que considerar pertinentes e, se acontecer, deixe que a internet o leve a outros lugares, talvez não relacionados. procure em dicionários, livros que tiver à mão. passe ao menos uma hora perdendo-se em temas em quais nunca pensou. se depois disso você não tiver uma boa ideia para escrever, sorteio um bis.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

si

primeiro segredo para escrever minimamente bem: não fale de si. podem me perguntar: mas você não fala de você mesma o tempo todo? falo. falo sim. só que eu mesma não sou eu mesma quando falo de mim.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

vento

kaikias, o vento menor do nordeste e apeliotes, o vento menor do sudeste, uma vez se encontraram com notus, o vento sul, grande, quente e formador de nuvens. kaikias e apeliotes, juntos, não eram capazes, nem com muita força, de formar uma nuvem sequer. temerosos, mas com respeito, pediram a notus que lhes ensinasse a soprar de forma mais potente. notus, educado em sua superioridade, soprou para ensiná-los. logo se formaram centenas de pequenas nuvens. kaikias, que era preguiçoso, começou a pular sobre as nuvens e apeliotes, que apesar de diligente, era meio burro, percebeu a dificuldade e logo desistiu. se alguém subir, durante à noite, num coqueiro da costa de alagoas, poderá  ouvir, lá de cima, as risadas de kaikias e de apeliotes.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

gari

oração para o gari ( mas que na verdade é para mim mesma), que eu vi na avenida eliseu de almeida, com quem eu troquei um sorriso, que achei que deve ser uma pessoa muito legal, mas que não pude continuar olhando porque o sinal abriu e porque eu fiquei pensando que ele ia achar que dei mole para ele: que deus perdoe nossa solidão.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

nós

a tendência -inclusive minha - é achar que os sinais do inconsciente (os sonhos, os deslizes, os atos falhos) é que revelam a verdade de algum mítico "eu". mas por que não pensar que as formas como o ego, a razão, a inteligência, sei lá, contornam e administram o inconsciente também fazem parte desse mesmo "eu"? por que achar que os caminhos que a consciência usa para lidar com esses sinais são menos verdadeiros? nossos eventuais disfarces também não somos nós?

domingo, 3 de fevereiro de 2013

fofura

não sei de onde veio, nem para onde vai, mas me perturba uma moda que mistura fofura a pequenas coisas cotidianas. ficaria só com a parte do cotidiano, sem a fofurice. mas: minha lindinha, a barra da sua saia está com um pequeno desfiado e é isso o que eu mais amo em você, lá, ra, ri, lá, ra e ontem eu fui ao cinema mas não tinha mais ingressos então eu fiquei chupando um picolé de coco com meus amigos e o meu amor, li, ri, ri, pra isso eu não tenho mais paciência, embora seja adepta do discurso das imperfeições.