sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ovo

o ano n'ovo cresce bem devagar, como fazem as coisas que ficam nos ovos. por enquanto, ele ainda está clarinho, clarinho, quase branco, de uma transparência viscosa e pegagenta. o ano n'ovo acabou de ser concebido e parece meleca. logo ele começará a amarelecer, encorpar, liquefazer e suas partes vão começar a se distinguir, as fronteiras se delinear. no meio do processo, as fronteiras ficam bem claras. como são chatas essas fronteiras bem delimitadas do ano n'ovo. mas o que se há de fazer? é assim com tudo o que quer nascer. vai chegar uma hora, enfim, em que, de tão bem configuradas as formas, o ano n'ovo vai querer sair para fora da casca. e, pronto. lá se vai outro ano n'ovo de novo se preparar para virar passarinho. e a casca do ovo, quebrada, ficará vazia do ano, já velho, que partiu para fora. é o fado das cascas e dos anos, dirá alguém mais sabido. e outro alguém, mais perplexo, responderá: puxa vida, mas tudo sempre tem que ser assim?

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