quarta-feira, 1 de junho de 2011

balada

a bia bracher, amiga querida, me deu de presente o livro balada, do nuno ramos. fiquei algumas horas dividida entre a alegria de ter o livro e a alegria de tê-lo ganhado. o tiro foi dado à queima-roupa e pode-se ver o efeito da explosão da pólvora sobre o papel. depois, a cada página (numerada), acompanha-se o efeito da penetração da bala, um buraco que vai se abrindo bem lentamente, até ir se esgarçando mais e mais para, finalmente, na página quatrocentos e setenta, encontrar-se a bala alojada. restos de pólvora vão se soltando nas páginas imediatamente anteriores e posteriores. da página quinhentos até a página mil, quando o livro termina, vão aparecendo marcas cada vez menores, como cicatrizes, até que, no final, não haja nem sombra de que houve um tiro. o livro como um corpo, as páginas como órgãos, virar as páginas como o ar que sai dos pulmões, a página atingida como a ferida aberta, as páginas seguintes como a cura, o esquecimento, a morte ou a continuação da vida. a bala alojada como uma coisa que fica guardada e que marca o local atingido definitivamente, mesmo depois de retirada.como a balada de robin hood na idade média, esta é a balada que podemos, ou merecemos ter.

4 comentários:

  1. uauh ! imagino que seja como a introdução que ele escreveu no seu "todas as coisas pequenas", tão profundo, tão marcante, tão.

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  2. nunca vi de perto e sempre quis ver. você só me deu mais certeza. puxa, puxa, puxa, noemi! que presentão!

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