terça-feira, 4 de dezembro de 2012

flecha

um dos títulos que cogitei para meu último livro, "o que os cegos estão sonhando", era "a flecha tardia", expressão que encontrei num poema de paul celan, talvez o único poeta que conseguiu, mais do que falar sobre a guerra, dizê-la. desisti porque soava solene e artificial para o propósito do livro. mas sempre que revejo "a flecha tardia" sei que ainda vou usá-la: pegá-la aqui, no futuro daquele tempo, ela que foi atirada às cegas como quem joga uma garrafa no mar; ela que não foi atirada mas que apareceu aqui, agora; ela cujo caminho carrega o século em si. todo remetente encontra, enfim, um destinatário; mesmo que não seja aquele que imaginou, nem no lugar, nem no tempo.

3 comentários:

  1. a imagem de uma flecha tardia é muito linda.
    mas "o que os cegos estão sonhando" é perfeito para o seu livro -- e que livro, Noemi! Tô amando.
    beijo

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  2. às vezes demora tanto tempo... que a gente nem lembra mais se foi quem enviou a mensagem ou se é quem a espera chegar...

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  3. o que eu sei é que flechas machucam.

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