terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
bom retiro
o chapéu era amassado e enfiado na cabeça. o terno, umas três vezes o seu tamanho. o rosto amarfanhado, parecendo bravo, mas não era: só o tempo mesmo. parava na nossa frente e abria o paletó: nos infinitos bolsos, coleções de agulhas, alfinetes, alguns canivetes, lâminas de gilete, canetas, lápis, borrachas, apontadores, clipes, fitas durex, linhas, garrafinhas de whisky, enfim, tudo o que alguém precisa para ser feliz. não falava nada e dormia num muquifo. era judeu, mas o bom retiro estava mais nele e ele no bairro do que nós. hoje não existem mais as pessoas que não falam nada e nem o bom retiro profundo, que, como os vilarejos poloneses, desapareceu em nós.
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o que denomina a bondade num retiro? será aí que a falta (vazio) e a quietude se confundem?
ResponderExcluirso quem vivieu sente....Té
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