domingo, 3 de abril de 2016

manu

no dia em que soube que a querida manu morreu, estava caminhando na rua pinheiros, triste, quando uma mendiga me parou e disse algo de que eu só pude ouvir o final: "dois reais". tirei quatro da carteira e ia dando a ela, quando ela disse: "então me deixe lhe dar suas sementes. essa aqui é de fibra de coco e essa outra é de cupuaçu. elas estão secas, parece, mas se a senhora umedecer, elas vão brotar e germinar. essa aqui, de coco, lembra uma, como é que chama, uma orquídea. é uma vagina lilás". fiquei olhando. "a senhora é de onde?", ela perguntou. "de são paulo mesmo". "mas mora onde?'. "no butantã". ela me olhou, expressando algo que parecia pena. também tenho pena de mim, uma passante burra que não entende nada. mas, naquele momento, pensei que o mundo contém a manu e que a manu o contém. que somos um e somos muitos, sempre os mesmos e sempre outros. que o tempo voltou para trás e foi para a frente e a manu é a mulher, a mulher é a semente e que é só umedecer, porque vai germinar. uma vagina lilás, uma orquídea, nossa manu, eu e você,

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