A Enguia
A enguia, a sereia
dos mares frios que deixa o Báltico
para alcançar nossos mares,
nossos estuários, os rios
que sobe pelas profundezas, contra a enxurrada,
de braço em braço e depois
de veio em veio, cada vez mais delgados,
sempre mais dentro, sempre mais perto do coração
da rocha, filtrando-se
por regos de lama até que um dia
uma luz desfechada dos castanheiros
acende sua chispa num poço de água parada,
nas valas que se despejam
dos flancos do Apenino, na Romagna;
a enguia, torcha, açoite,
flecha de Amor na terra
que só as nossas ravinas ou os ressecados
regatos pirenaicos reconduzem
a paraísos de fecundação;
a verde alma que procura
a vida onde só
reina a aridez e a desolação,
a centelha que diz
tudo começa quando tudo parece
carbonizar-se, galho enterrado;
breve arco-íris, íris gêmea
daquela que teus cílios encastoa
e que fazes brilhar intacta entre os filhos
do homem, afundados no teu lamaçal, podes tu
não crê-la irmã?
Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti
parece que o eugênio disse tudo isso para te convencer a amar a enguia.
ResponderExcluiré lindo.