terça-feira, 24 de novembro de 2009
interior
estou dando aulas de literatura nas bibliotecas do interior de são paulo. hoje, entre os alunos, havia uma menina autista. não tinha percebido nada, foram as outras que me avisaram. nós já tínhamos conversado e ela me disse que tinha prestado vestibular para veterinária, não tinha passado e tinha ficado muito triste. precisava fazer quarenta e cinco pontos e tinha feito vinte e nove. depois que me avisaram de seu autismo, fiquei reparando num sorriso fixo em seu rosto, na voz que parecia artificial, como se ela fizesse força para falar. pedi que todos escrevessem uma crônica. quando chegou a vez dela, ela disse: vou falar sobre fronteiras. e começou: quero atravessar fronteiras, lutar com dragões, ultrapassr os caminhos, ir para onde ninguém foi. fiquei olhando. em que fronteira eu estou, estava, para dizer alguma coisa a ela? espantosamente, foi ela que me colocou do lado de lá de seu país de sorriso fixo e foi a minha fala que não soava mais de verdade.
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As fronteiras são frágeis, felizmente, para que possamos atravessá-las de lá pra cá e daqui pra lá, buscando nossas palavras.
ResponderExcluirQuanta emoção, Noemi!
Beijos,
Maria Teresa
Professora, você é demais!
ResponderExcluirBeijo, já com saudades da sua aula,
Juliana.
esse pequeno texto foi uma preciosidade, Noemi, que coisa bonita
ResponderExcluiruau! é só o que eu tenho a dizer. Beijo
ResponderExcluirdoce.
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