terça-feira, 17 de novembro de 2009

ônibus

quando minha avó chegou ao brasil, em mil novecentos e quarenta e nove, tinha muito pouco estudo e vinha de uma situação de pobreza e sofrimento extremos. foi morar na rua josé paulino, num apartamento emprestado, onde havia um corredor estreito e comprido, em que ela estendia peças de tecido, cortava e costurava roupas para crianças, junto com minha mãe. depois ela punha as roupas numa maleta e saía para vender: na rua, em feiras, em lojas. uma vez, quando ela ainda não falava nada de português (como quase não falou pelo resto da vida), ela perguntou que ônibus deveria tomar para ir até a avenida são joão. ela falava sao ioao, porque o j, em iugoslavo, tem som de i. depois de muita gesticulação, disseram para ela tomar o ônibus número trinta e dois. ela ficou parada no ponto, esperou passarem trinta e dois ônibus e entrou. puxa, como os enganos são bonitos.

4 comentários:

  1. Vindo aqui, não tem uma vez que não me surpreenda com a surpresa dos teus com-passos de menina. Comove-me, de dar suspiro a meio, tempo parado, instante suspenso na parede, e eu me em-levando...
    Muito linda a forma que teus olhos delineiam...

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  2. oi Noemi, isso daria um conto ou uma novela
    Malta

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  3. que coisa mais linda!


    Eu queria que todos pudessem ver o quão valioso é este blog aqui. =)

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  4. pois foi lá no bom retiro que troquei estantes de livros por estantes de linhas, zipers, aviamentos e de pesquisadora virei comerciante, no começo não conseguia me fazer entender pelos balconistas, nem pelas costureiras...agora o que eu gosto mesmo é de conversar com eles, os comerciantes mais antigos, libaneses, árabes, judeus que sobreviram a tudo e contam episódios que fazem a compra virar um conto, o dia virar uma delícia da vida deles na nossa como essa da sua avó linda com que você nos presenteou hoje
    bjs Nô

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