quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

proparoxítona

minha mãe é meio húngara, meio iugoslava, porque a cidade em que ela nasceu fica na fronteira dos dois países e lá se falam as duas línguas: sérvio e húngaro. mesmo assim, tenho uma ligação bem mais forte com a hungria do que com a iugoslávia. talvez porque o guimarães rosa tenha dito que quem domina a língua húngara tem parentesco com o diabo e porque o seu mistério está no fato de ela ser toda proparoxítona e quase sem irmãs do mesmo tronco (afora o finlandês), eu sempre tenha sentido muita atração pela língua e, por extensão, pelo país, pela culinária, pelo povo. quando estive em budapeste, fascinada até pela feiúra aparente de pest (parecida com a de são paulo), entrava nas livrarias e perguntava: você tem algum livro sobre os mistérios da língua húngara? os vendedores, sem exceção, respondiam, entre bravos e assustados: mistério da língua húngara? qual mistério? eu dizia: mas é uma língua única na europa; não é eslava, nem indo-europeia. mas isso é mistério? eles falavam. o húngaro é muito parecido com o finlandês, totalmente normal. não existe mistério nenhum na nossa língua. é. eu ofendia os húngaros ao considerá-los misteriosos. aquele monte de obelixes andando lindos pelas ruas e falando proparoxítonas são normais. deve ser que nós, pobres paroxítonos, é que somos pobremente estranhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário