quinta-feira, 23 de setembro de 2010
fresta
quando a gente dorme, as palavras ficam também dormindo numa caixa amarela. no momento de despertar, a tampa da caixa se abre lentamente e, pelas frestas, algumas palavras vão saindo aleatoriamente. então sai assim: "a senhora já viu uma coisa dessas?"; "lambuzado"; "dá cá aquela palha"; "verde-musgo"; "atrás do trio elétrico". elas aparecem já na nossa boca e, quando vemos, estamos falando. daí elas saem para o ar, onde se misturam com o relógio, a luz do dia, os barulhos distantes. elas não gostam muito disso e voltam para perto de nós, já todas arrumadinhas. querem entrar. a gente pega as palavras, dá uma organizada e, também um pouco tristes, condescendemos e começamos a falar coisa com coisa.
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As minhas palavras desfrutam de passeio matinal e noturno, depois de saírem e antes de voltarem para minha caixa amarela.
ResponderExcluirSempre tão sensível o que você diz, Noemi! E como torna-se ainda mais confiável a sabedoria organizada que sai da tua boca todas as manhãs de quarta-feira, a serviço de Kafka, Benjamin e Kundera, quando a sabemos tão reverenciadora das palavras não organizadas que - felicidade! - nos escapam pelas frestas da caixa amarela todas as manhãs... Beijo!
ResponderExcluirNoemi, tão bonito seu amor pelas palavras!
ResponderExcluirLindo texto.
Adorei, prof! Brigada.
ResponderExcluirBeijo,
Juliana.