domingo, 24 de outubro de 2010
ovo
o ovo cozido (que na minha família é ovo duro) é a expressão máxima da dignidade culinária. simples, perfeito na sua integridade de forma, sabor, cores e textura, é a comida dos imigrantes russos ou japoneses chegando ao brasil nas décadas de quarenta e cinquenta, do migrante nordestino que chega a são paulo, da lancheira preparada pelas mães pobres e ricas. não se rende a situações de extrema carência, mantendo sempre classe e altivez; não se subordina a preparos muito refinados, pronunciando-se mesmo sobre os ingredientes mias raros. pede isolamento, para que sua inteireza permaneça como uma das verdades absolutas, em que sempre se pode confiar. consola os tristes, alimenta o corpo e a alma e alegra ainda mais aqueles que somente o buscam por diversão. mas não se deve brincar demais com o ovo cozido. ele é sério e de alguma forma, impenetrável. preenche nossas necessidades mais íntimas, mas não permite violar seu mistério. o ovo é palindrômico, completo, circular, inviolável.
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Muito mais efetivo e conciso do que aquele conto da Clarice!
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