segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

ciúmes

numa exposição de fotografias lindas, senti de repente muita tristeza: aquelas imagens eram tão vivas, vibrantes, verdadeiras, mas todos aqueles que sorriam, cantavam, olhavam, agora estavam mortos. onde estavam aquelas pessoas? onde aqueles lugares, aquelas sombras, onde a voz? soube por um instante que também eu, a olhar aquelas fotografias, era como uma imagem não fixada do nada que também eu algum dia seria, algum dia serei. e assim também com quem estava ao meu lado, o espaço da exposição, tudo. achei injustas e ladras as fotos, por nos iludirem, trazendo para o agora o que já não é e por roubarem ao tempo um momento que ele levaria e às pessoas um instante que era só delas. lá estava eu contemplando uma beleza que talvez nem mesmo os atores da foto chegaram a conhecer, num tempo e num lugar que eles jamais imaginariam. não quis me tornar uma imagem para o futuro; tive ciúmes de mim.

3 comentários:

  1. senti a mesma sensação enquanto lia o teu texto. bela reflexão.

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  2. quero ler o seu livro que roubam ao tempo as sutilezas do cotidiano...Parabéns pelas palavras que conferem ao trivial uma suavidade de calda de pudim de leite, sobremesa do almoço de domingo.

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  3. Senti o mesmo que a wanessa queiroz. Um óptimo texto :)

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