quarta-feira, 28 de novembro de 2012

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um poema de sucesso que seja top no twitter, que dê para cobrar ingresso e que ao francês diga oui; ter mil fãs no facebook, ser parada no youtube, ganhar rivais só no muque fundar um aeroclube. mas o blog perde a métrica e não sabe separar versos e tem a questão estética e os conceitos diversos. melhor é deixar mais quieto e seguir na lida dura; ser um sucesso incompleto dessa vã arquitetura.

Um comentário:

  1. Que queres que eu te faça?
    Que vá ver um patrono em voga, um protetor,
    E — como hera servil que em busca de um tutor
    Lambe a casca do tronco em roda ao qual se torça —
    Cresça por manha, em vez de me elevar por força? Obrigado.
    Ofertar meus versos a um banqueiro,
    Como é vulgar?
    Fazer do vil pantomimeiro
    Na esperança de ver nos lábios dum ministro
    Sorriso que não tenha uns longes de sinistro?
    Almoçar cada dia um sapo — e não ter nojo,
    Gastar o próprio ventre a caminhar de rojo?
    Obrigado.
    Trazer os joelhos encardidos?
    Exercitar a espinha em todos os sentidos?
    Obrigado.
    Acender um círio a São Miguel
    E acender outro círio ao réprobo Lusbel?
    Libertar o galé, com medo do patíbulo?
    Andar a cada canto e sempre em turíbulo?
    Obrigado.
    Galgar trapézios de acrobata?
    Ser um grande homenzinho em roda aristocrata?
    Remar com os madrigais, e ter as bujarronas
    Túmidas dos senis suspiros das matronas?
    Obrigado.
    Gozar de sermos editados
    Pelo editor Sercy... pagando-lhe?
    Obrigado.
    Ser escolhido papa em todos os conclaves
    Feitos por imbecis tão nulos quanto graves?
    Obrigado.
    Assentar meu nome e posição
    Num tal soneto, em vez de fazer outros?
    Não! Obrigado.
    Encontrar talento nos sendeiros,
    Aterrar-me de ouvir estranhos noveleiros,
    E sentir um prazer na reles esperança
    De ter qualquer menção no Mercúrio de França?
    Obrigado.
    Antepor — de medo e covardia —
    Salamaleque infame a rútila poesia?
    Redigir petições e pertencer a alguém?
    Obrigado! Obrigado! Obrigado!...
    Porém Cantar, sonhar, passar, ter liberdade e fibra,
    Ter a vista segura, e ter a voz que vibra,
    Pôr o meu feltro à banda, e — espanto dos perversos —
    Por um sim por um não bater-me, ou fazer versos;
    Trabalhar, sem ter fito em lucros e honrarias.
    Numa excursão à lua e noutras fantasias!
    Nada escrever jamais que eu mesmo não produza,
    E, modesto, dizer à minha altiva musa:
    "Seja do teu pomar — teu próprio — o que tu colhas
    Embora fruto, flor ou simplesmente folhas".
    Depois, se acaso a glória entrar pela janela,
    A César não dever a mínima parcela,
    Guardar para mim mesmo a gratidão mais pura;
    Enfim, sem ser a hera — a parasita obscura —
    Nem o carvalho e o til — gigantes do caminho —
    Subir, não muito, sim, porém subir sozinho.
    Cyrano de Bergerac ( de Edmond Rostand)

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