terça-feira, 3 de julho de 2012

pingo

o pingo está bem velhinho, surdo, meio cego, fraco das pernas e um pouco esclerosado. fica andando sem parar, pra lá e pra cá, desgovernado e carente. quando saio para a rua, fico pensando nele dentro de sua casinha. provavelmente, ele não está pensando em nada e nem sofrendo. mas ele está lá e tem um ser, algum tipo de individualidade só sua. o que o constitui? como é o seu ser velho? como estar junto de sua solidão velha e atendê-lo nas necessidades que ele mal sabe expressar, além de olhar e andar? a velhice explode como a condição de um eu vazio, como que pedindo: seja por mim. sua velhice me faz pensar na minha.

4 comentários:

  1. Nossa, Noemi, essa sua última frase me fez pensar na experiência que vivi no ano passado com três dos meus cães (dois velhinhos e um nem tanto) ... mas eles realmente fazem a gente refletir sobre a nossa finitude ... e nos ensinam horrores ...

    Ana Gibson

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  2. Noemi, primeiro vi o pingo da chuva velhinho e cansado tentando pular daqui-pracolá, bem atrapalhado. Em seguida vi um pingo do trema defenestrado, por isso fraco das pernas, perdido, demente.

    Foi só depois que percebi o seu Pingo deitado na casinha matutando coisas pra te encandecer. Tão vivo.

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  3. a velhice explode como a condição de vazio.....é contundente! comecei a pensar na minha e na do Pingo

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