sexta-feira, 21 de março de 2014

sarah

pense numa combinação absurda: uma pessoa que, por gostar de caravelas brasileiras, vai estudar literatura portuguesa em glasgow, a cidade europeia que tem a maior tradição na construção de navios de grande porte. ela se apaixona tanto pelas caravelas e pelo português, que vai morar nos açores, para aprender a língua. de lá, ela vem para o brasil. mas, uma vez aqui, não quer visitar são paulo, o rio de janeiro, nada. só abrolhos e itacaré. ela fica em itacaré, onde abre um sebo e faz traduções. ela gosta de barcos, literatura brasileira e de surf. e tem mais uma coisa: ela existe e se chama sarah. faz poesia em português e nós duas, no porto de salvador, vimos um navio vindo de hamburgo com grandes contêineres que pareciam livros numa biblioteca gigante. eles carregavam carros ou creme hidratante ou lentes de aumento ou panoramas da literatura brasileira. não sabemos. mas um desses contêineres iria cair no mar e, daqui a cem mil anos, um pesquisador vai encontrar esses panoramas da literatura brasileira e só ele saberá, inutilmente, que ela estava prestes a salvar o mundo, mas que o mundo não quis ser salvo.

3 comentários:

  1. Tão lindo seu blog, Noemi. Acabei de descobri-lo e estou encantada. Obrigada por compartilhar estes pequenos recortes da sua realiade. :)

    ResponderExcluir
  2. O que importa é a viagem, seja ela real ou literária... :)

    ResponderExcluir
  3. júlia favaron magoulas30 de março de 2014 às 19:46

    foi numa escola pública, em copacabana, no final de uma rua, sem saída. depois de ter passado dois anos , vivendo a experiência de se chorar abandonada pelos pais e ter que fantasiar a temerária pedreira como destino, ela que sólida e temerária, parecia escorar o prédio baixo da escola, conheci a professora dona sara. antes dela, a boa lembrança é a do cheiro de banana, na merendeira de algodão, feita em casa. foi com ela, dona sara, que conheci o afeto e a dificuldade da palavra, da leitura. foi com ela, que pude olhar para a pedrreira, a cada dia que ia a aula, sem temer ser soterrada. dona sara estava lá. e está até hoje.

    ResponderExcluir