quinta-feira, 18 de junho de 2009

medo

o vigia que cuida da rua durante o dia, seu madruga, é medroso. ele tem medo da chuva, de ladrão, das pessoas, de doença. é desconfiado, rabugento e feio. meu cachorro, que é epiléptico, teve um pequeno ataque, e ele viu. ficou com medo. é perigoso? não. dá na gente? não. posso ficar perto dele? pode. mas tem certeza que eu posso? tenho, seu madruga. e, agora, toda vez que eu saio de casa, ele me pergunta as mesmas coisas, nessa ordem. talvez o seu madruga seja uma vítima do medo, não sei. mas penso que o medo, o medo o, é a pior mediação criada em conjunto pela natureza e pelo homem para se relacionar com o mundo. é uma linguagem triste, falsamente protetora. o medo é a máscara de uma pequen morte nos contaminando os dias.

5 comentários:

  1. que lindo esse final. a máscara de uma pequena morte nos contaminando os dias.

    é como precisar morrer um pouquinho a cada dia, talvez na tentativa de adiar o inevitável mas necessariamente por isso se aproximando dele.

    preencher de medo o incomensurável é torná-lo todo morte. que horror.

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  2. Querida Noemi,
    Este foi o primeiro post que li desse seu lindo blogsedapura e ele me deu mais coragem com os navios, com as palavras com os selos, com os cães epiléticos, com a altura das sacadas e os fantasmas da memória.
    Volto logo,
    Um beijo, carinho, admiração.
    Lili

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  3. Por mais triste que seja, e é, o medo neste post tem também alguma graça, Noemi. Dei muita risada com os medos do seu Madruga. Ele é vigia! (Depois, chegando ao final do texto, lembrei do Hobbes, que baseia toda a sua teoria do contrato social no medo. Digamos que você tenha direito a fazer o que quiser. Ótimo! Mas o seu semelhante também tem o mesmo direito. O que acontece então? Você começa a temer que ele se sinta no direito de usufruir do seu corpo ou do seu espaço ou de qualquer coisa que você tome como sua. Então você passa a ter medo dele. Por analogia, ele também passa a ter medo de você. Mas então como garantir que vocês possam conviver? Ambos abrem mão de parte de seu direito, numa espécie de contrato. Ambos passam a sentir-se mais seguros ao evitar uma "guerra de todos contra todos", ao mesmo tempo que o medo dessa guerra é o que os mantém firmes no pacto.)

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  4. que texto lindo... impossível traduzir melhor o que é esse sentimento "medo".

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  5. vou brincar que ainda é cedo
    que o brinquedo tá na cara
    tá na cara tá na cura desse medo

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