sexta-feira, 19 de junho de 2009

missa

fui fazer uma inalação no pronto-socorro. na minha frente, um rapaz de camisa vermelha, celular na mão, cantarolava sem parar, em voz bem alta, uma canção em uma língua desconhecida. para mim soava como alguma derivação do russo. ele tirava sangue lentamente e comentava também os movimentos da seringa e dos fios. comentava para ninguém, só para si mesmo. nós todos ali, naquela sala, inalando ar, reunidos, e o moço cantando. to rro li shat la kav nin tlo piiiis. os enfermeiros passando e perguntando: melhorou? de um a dez quanto você está sentindo de dor? quer levar o inalador para casa? não. tadinho do inalador. ninguém quer levar ele para casa. ao mesmo tempo me sentia a mais solitária das resfriadas, mas, também, senti fazer parte de uma comunhão de respiradores, embalada pela cantiga estranha. moço da cantiga estranha, você me salvou da burocracia da gripe e a transformou em uma missa russa.

4 comentários:

  1. noemi, fiquei muito feliz que você gostou do meu poema :-)

    espero que você já esteja melhor do que quer que te levou ao hospital fazer inalação

    bjo

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  2. Noemi:
    Uma amiga trouxe hoje de São Paulo um exemplar da Revista da Folha em que há matéria sua sobre Flávio Di Giorgi. Foi como um presente. Ficamos emocionados: minha esposa foi aluna dele. Parabéns.
    Quando o encontramos pela última vez, há anos, ele nos recitou Homero, no meio da rua...

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  3. Seria um mantra, ou açguma língua morta, que o fez enfeitiçar a todos?

    Grande Abraço, e melhoras!!

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