terça-feira, 11 de agosto de 2009

cinema

antonio candido conta que, por volta de mil novecentos e vinte e seis, ele e um dos dois irmãos eram apaixonados por cinema, que passava uma vez por mês na cidadezinha no interior de minas onde ele morava. ele e um primo também obcecado pelos filmes, colecionavam revistas sobre cinema e tinham um hábito lindo: recortar todas as cenas que conseguissem de um mesmo filme, fazer tiras de papel almaço colado e colar, nestas tiras, as cenas do filme escolhido na sequência certa, entremeando com aquelas telinhas enfeitadas com os dizeres dos atores, que eles mesmos se esmeravam em escrever com capricho. com o máximo de cenas acumuladas na ordem correta, eles pregavam o papel em suportes de madeira e enrolavam como um pergaminho. diante da plateia curiosa e maravilhada - os outros dois irmãos - eles desenrolavam as cenas como se fossem elas também um filminho privado. depois que surgiu o cinema falado, antonio candido conta que perdeu o encanto tão grande que sentia pelo cinema. onde estão estes filminhos, onde está esta plateia de dois irmãos, onde estãos as letras bonitas das telas entre as cenas? por que não dá para ter tudo?

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