sábado, 8 de agosto de 2009

tempo

meu pai gostava muito da elis regina. quando ela morreu, de forma inesperada e trágica, ele não se conformou. de repente, do nada, no meio de um silêncio na sala, ele dizia, com o seu sotaque lindo: elis regina móreu. e assim ficou. mesmo cinco anos depois da morte dela, quando baixava um silêncio e ninguém tinha o que dizer, por motivos bobos ou graves, ele dizia: elis regina móreu. nós ríamos muito. mas para ele era a síntese lapidar do tempo que passa e não poupa nem a nós nem à elis regina. hoje meu pai já não está mais aqui, muitos outros também não estão e, muitas vezes, quando baixa um silêncio e eu sinto o tempo passando bem rente de mim, até ouvindo seu barulhinho, me pego dizendo: elis regina móreu.

Um comentário:

  1. Linda lembrança! Quando eu era criança, acho que na quinta série, tive uma professora incrível de português que só pedia dever de casa interessante (assim quiném você!). Um dia a tarefa foi escrever uma redação contando frases e palavras inventadas pela família de cada um, expressões que faziam parte da história daquelas pessoas e que só elas entendiam. Bem no estilo "Elis Regina móreu"! Até hoje me lembro de achar muito gostoso escrever sobre isso.
    Um abraço,
    Juliana.

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