terça-feira, 4 de agosto de 2009

escambo

os minutos que vêm logo depois de acordar, ainda entre o sono e a vigília, são cheios de possibilidades que, assim que a vigília predomina, soam absurdos. durante esses minutos tenho certeza de que vou publicar um livro único sobre o qual ninguém nunca tinha pensado e que vai fazer um sucesso internacional; encontro uma maneira de conseguir visitar minha mãe todos os dias; descubro um jeito de fazer escambo com os melhores restaurantes da cidade: redijo os cardápios e, em troca, eles me oferecem jantares de graça por um ano. não, mais de um ano, quem sabe para sempre. essa brecha de luz embaçada, esse tempo não cronológico, não linear, entre a entrega ao outro e a posse de si mesmo é um momento privilegiado, que eu gostaria de agarrar com os dedos e levar comigo na bolsa. nos momentos chatos do dia, eu o tiraria de lá, vestiria como se fossem óculos e veria o mundo com cores esfumaçadas, brilhantes, engraçadas, do jeito que eu quisesse.

5 comentários:

  1. esse momento embaçado é a primeira coisa que o insone perde. já viu a realidade dura de um insone? tá na cara dele, tipo na minha em certas épocas. tudo meio de cristal, duro e translúcido, não embaça, não tem graça nenhuma.

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  2. Não é nesses momentos que você também prepara suas aulas super criativas e discute com Calvino sobre o livro dele que nunca começa?
    MTeresa

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  3. Também queria esticar esse tempo suspenso, essa horinha em que as coisas se insinuam de jeitos tão diferentes, quando é o absurdo que faz todo o sentido.

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  4. a insônia é talvez a única coisa de que realmente tenho medo (afora as óbvias)! por isso talvez goste tanto desse intervalo, porque ele é a prova de que eu dormi!

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  5. genial, noemi.
    são bastante valiosos, esses tempos sem-tempo tão cheios de possibilidades.

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