segunda-feira, 17 de maio de 2010

calcanhar

vi que meu calcanhar estava rachado e antes de ir para o banheiro raspar, lavar e hidratar, fiquei olhando atentamente as rachaduras sob uma luz forte. deveria eliminar alguma linha que esteve lá, embaixo de uma trave de futebol, no papel de goleira, aos oito anos de idade, onde me senti talvez no lugar mais deslocado e errado onde já estive? e será que ainda estava lá inscrita a marca do hotel quitandinha, em petrópolis, onde engoli um pedaço do vidro da garrafa de água tônica, que não entendia como minha mãe podia gostar? achei que não. o pé não deve guardar impressões tão fundas. mas elas formavam contornos em espiral, como as linhas digitais; é capaz que ainda guardassem as cambalhotas da praia de itanhaém. lavei, no fim. mas não com muita força.

Um comentário:

  1. Os contornos digitais estavam ali para todos virem, engoli um pedaço de salame da Calábria e fui rezar na capela do Viticano.

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