quinta-feira, 24 de junho de 2010

soldadinho

minha mãe cortava o pão de centeio em bolinhas, as salsichas também, espetava com um palito de dentes e chamava de soldadinhos. fazia carne de sopa e colocava no centro do prato, envolto por um molho de tomate, que era o mar, e purê de batatas, que era a praia. esse prato se chamava "a ilha". fazia espinafre cozido com ovo pochê em cima, numa taça vermelha de vidro, todas as sextas-feiras, quando tínhamos visitas. sopa de pêssego e claras de ovos, como entrada para o jantar. de sobremesa, uma taça longa com café quente e sorvete gelado, que tomávamos com canudinho. em iom kipur, rocambole de chocolate, de onde escorria um fio úmido de chocolate toda vez que eu dava uma mordida. em pessach, ela mexia ovos com matzá quebrada. no inverno, cholnt, que ficava cozendo no fogo durante doze horas e ela acordava durante a noite para mexer. goulash com nhoque e sem creme de leite, com páprica húngara picante. bife de contra-filé que ela salgava na hora, frito com manteiga direto na chapa. como ela conseguia fazer o contra-filé ficar macio? meu pai só sabia assar castanhas, mas assava com tanto orgulho que era como se soubesse cozinhar muito bem. eu só sei fazer mussaka, torta de ameixas e damascos, brownies e macarrão com ossobuco desfiado. a comida não é uma parte da minha vida, uma parte do meu tempo. é o pão que eu como com o mundo.

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