segunda-feira, 21 de outubro de 2013

amos

fui ver ana arabia, de amos gitai e saí do cinema sonhando em escrever, como só ele consegue fazer, uma história em que nada pudesse ser interpretado, em que todas as palavras dissessem só o que querem dizer. assim, por exemplo: ana descasca batatas. coloca as cascas numa bacia vazia. depois, lava as batatas limpas e as põe para cozinhar. enquanto espera, separa as roupas que serão lavadas: uma saia de moça, um macacão de bebê, duas camisetas de times de futebol e um pano de prato. olha para o céu, parece que vai chover. é melhor não pendurar as roupas no varal. joana aparece e conta um sonho assustador. ana dá de ombros. é só um sonho.

2 comentários:

  1. o que somos em um, o somos em todos. o que são todos, senão o eu, indivisível?! o que é uma figueira dentro de uma jardim de limoeiros? que cheiros emana o meu irmão distante sendo tão igual aos cheiros que estão em mim?

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  2. amos, a caixa preta, não terminei a leitura. paro. várias leituras, de vários livros. penso agora que é uma questão de diafragma, a emoção que tropeça no esôfago. numa fala, descrição, não sei. a culpa acumula poeira de castigo. como pode? tem que ler de cabo a rabo, sublinhar, anotar, fichar. mas como? fico com uma página, as vezes dias a fio, meses, anos. uma página. ah, o pecado da preguiça, esse é o pior de todos. parece não ter perdão, nem salvação. era assim que elas, mãe e avó faziam acreditar, mostrando mãos de tanque, de cozinha, de máquina de costura e a prova da culpa era aquela "mão de pianista"! sem piano. mas ia buscar leitura, não de escola. meu tio lia de um tudo, tinha asma, me fazia rir e era atrás dele e do que lia, que buscava o que não sabia. acho que até hoje é assim. não sei.

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