quinta-feira, 17 de outubro de 2013
mandy
differentiate. a mandy dizia que só falando essa palavra é que ela percebia que eu não era americana. de resto, não dava para perceber meu sotaque. nunca entendi por que ela ouvia um sotaque brasileiro nessa palavra. até hoje fico repetindo: dif-fe-ren-ti-ate. acho que é no ren, ou ao menos isso ela dizia. já faz trinta e seis anos que ela disse isso. outro dia procurei saber dela pelo google. uma noticiazinha num jornal interiorano lamentava a morte de mandy malkovich, irmã do grande ator john malkovich, professora de uma escola infantil no sul de illinois. quando fui embora, ela, minha única amiga americana, no meio de um monte de brucutus truculentos e racistas, me deu uma camiseta de beisebol. nem lembro direito do seu rosto, meu sotaque piorou, não sei falar differentiate, já nem gosto mais tanto do john, mas como é triste a mandy não estar mais por aqui.
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Obrigado, Noemi, por escrever uma crônica assim, prosa pequena, cara e coração de haicai: um satori de imenso instante de humanidade.
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