quinta-feira, 10 de outubro de 2013

fatia

no judaísmo há uma oração que diz: "se eu esquecer de jerusalém, que me caia o braço direito". no filme shoah, de claude lanzmann, um senhor lembra que sua função, no campo de concentração, aos doze anos, era jogar os mortos para dentro de valas que ele mesmo cavava. para ele, a vida era isso e ele diz que não estranhava seu papel, por achar que nada havia de diferente no mundo. diz que só pensava que, se vivesse, seu maior desejo seria comer cinco fatias de pão. se eu esquecer disso, que me caia o braço direito.

3 comentários:

  1. "adan filho de cão"... quem lembra, quem nunca viu? ossos enterrados sobre escombros, servindo como penitência! braços na clausura do medo, para conter o inevitável. kaniuk. um olho torto no meio da noite. a noite-noite, pura e simplesmente viva, para ser deplorada!...

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  2. posso provar uma fatia? do queijo, do presunto, do salame... minha avó e minha mãe, faziam isso sempre. na feira, os biscoitos a varejo, também. as sacolas, de pano, sempre feitas por minha avó, vinham carregadas. uma mão em cada alça.cada feira, era uma longa manhã, duas idas e voltas para ver os preços e só na terceira, para pechinchar e comprar. e era assim que tinha que ser. o pão não faltava. era ele que arrematava o prato de comida, molhava no café ou na sopa, as fatias de história . historias de imigrantes, quase todos, do pós guerras primeira e segunda. durante muito tempo, só ouvia. era assim que tinha ser. só começou a juntar as fatias ao longo dos anos e das fotografias, por quem tem um especial prazer em ver e conhecer a fatia de sua história. até hoje é assim. a fatia que cada um vai provar das histórias que vê e ouve, pode tornar mais leve ou pesada a sacola para carregar. por isso a mão para escrever é vital, ela precisa contar, gritar, lamentar, falar, falar e lembrar , a noite, do creme que comprou um e ganhou outro, para passar nessa mão. sempre esquece.

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