domingo, 13 de outubro de 2013
vó
minha vó, czarna, trazia, todas as sextas-feiras, saquinhos de papel cheios de chocolate para cada uma de nós três. na embalagem ela escrevia, a lápis: stelinhu, janynhu, noeminhu. o chocolate tinha um formato todo desengonçado. eu dizia: vó, me dá cocô. ela ria. tinha vergonha de sentar porque descobririam que ela tinha bunda. tomava banho de anágua, porque tinha vergonha do próprio corpo. fazia um furo no lençol para a hora do sexo. coletava roupas, andando pelas lojas do bom retiro, que depois vendia numa feira do brás, para onde ela só ia de ônibus. esse dinheiro ela doava para os judeus pobres e doentes. o dinheiro que ela recebia da alemanha, guardava numa caixa de sapatos, embaixo do armário. corre uma lenda que o seu marido, com quem ela se casou depois dos setenta anos, teria se apropriado da famosa caixa. uma vez, em santos, depois de se engasgar com um osso de galinha e em desespero para ir ao hospital, chamou um táxi. o marido disse: de táxi, não. é muito caro. e foram de ônibus com o osso entalado.
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pôxa.
ResponderExcluirlindo, Pró. e triste, como um blues
ResponderExcluirquem tem vó que entrega chocolates? quem é feliz assim, tendo uma vó que entrega chocolates?! ah, quem recebe o doce, quão doce fica e o será, para sempre!!!
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